09/07/2015 10h53min - Geral
9 anos atrás

Situação de Dilma é mais complicada do que a de Collor, diz historiador

Dilma mais complicada

arquivo ► Para o historiador a situação de Dilma é complicada

Odilo Balta / jornalcorreiodosul@terra.com.br
Fonte: Assessoria de Comunicação


Boris Fausto, um dos principais historiadores do Brasil, considera difícil relacionar a crise política que enfrenta a presidente Dilma Rousseff com a que derrubou João Goulart, em 1964, conforme fez neste domingo (5) o senador tucano José Serra. Ele não vê problemas, porém, em fazer comparações com a queda, em 1992, do primeiro presidente eleito após a redemocratização do país, Fernando Collor. Na avaliação do historiador, que declarou voto em Aécio Neves, há mais razões técnicas hoje para o impeachment de Dilma do que havia no caso de Collor, sobretudo por “problemas no Orçamento [as chamadas ‘pedaladas fiscais’] e no financiamento da sua campanha”. “A comparação com o Collor é interessante porque, por muito menos, o Collor sofreu impeachment”, afirmou, em entrevista à BBC Brasil. Questionado sobre a ausência de acusações diretas de corrupção contra a presidente, Fausto disse que Dilma “fez um esforço no sentido de controlar os piores aspectos da corrupção e dar um rumo para a Petrobras”. “Mas o problema é que ela está metida em toda uma instituição política da qual faz parte, não obstante suas supostas e prováveis intenções”, completou. O historiador disse considerar que as acusações de corrupção que contribuíram para a queda de Getúlio Vargas, com seu suicídio em 1954, eram “um laguinho” diante das denúncias envolvendo a Petrobras. A menção é uma referência à expressão “mar de lama”, popularizada na época da crise de Getúlio. Confira abaixo os principais trechos da entrevista: BBC Brasil – Após indicações de uma possível ruptura entre PT e PMDB e de declarações de líderes do PSDB de que estariam prontos para assumir o país, Dilma partiu para o ataque e disse que não vai cair. Esse tipo de afirmação tende a ter algum resultado político? Boris Fausto – Algum resultado certamente tem. Ela é presidente da República. Para usar uma linguagem do boxe, ela tentou sair das cordas. Presumo que teria tido uma boa acolhida no PT. Em outros círculos, não acredito. BBC Brasil – Pareceu um bom passo dentro da disputa política? Fausto – Não acho que seja um bom passo. Acho que ela teria que falar mais, porque a presença dela em momentos de crise seria muito importante e ela aparece muito pouco. Não gosto do conteúdo. Essa coisa de “eu não tenho medo, venham para a luta” parece um desafio de ginasianos, e não a palavra de uma presidente. E essa exploração de uma outra época histórica, do fato de que ela tenha sido torturada, presa política, aliás, só a enaltece, mas essa exploração, transportada para o dia de hoje, não faz sentido. BBC Brasil – O senador José Serra disse que o governo Dilma “é o mais fraco” que já presenciou. “O de Jango (João Goulart, deposto em 1964) era de uma solidez granítica se comparado com o de Dilma”, afirmou na ocasião. O senhor concorda? Fausto – Não concordo em parte. É difícil medir solidez granítica de governo. Acho que o governo Jango, sobretudo na última fase, teve um comportamento muito errático, se enfraqueceu muito e foi derrubado por um golpe. As épocas são muito diferentes, as razões (da fraqueza dos governos) são muito diferentes, as forças sociais em jogo são outras. Não vejo paralelismo. BBC Brasil – A imprensa teve um papel importante na queda tanto de Jango como de Getúlio Vargas. O PT costuma acusar a imprensa de perseguir o partido e seu governo. Como o senhor vê a atuação da mídia hoje? Fausto – A imprensa sempre teve um papel importante no Brasil. No passado tivemos algo que hoje não temos: órgãos da imprensa com diferentes posições. Por exemplo, o caso do (jornal) Globo em contraste com a Última Hora (jornal que apoiava Getúlio). Hoje não temos isso. Agora, estou seguro de que essa teoria conspiratória sobre a imprensa manipulando a situação é falsa. A mídia em geral tem tido um papel muito importante no esclarecimento de fatos. Em vez de censurar a mídia é melhor censurar o comportamento das pessoas sobre quem a mídia fala. BBC Brasil