Odilo Balta / jornalcorreiodosul@terra.com.br
Fonte: Campo Grande News
O Gacep (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial) iniciou uma investigação sobre o atendimento prestado à jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, vítima de feminicídio na semana passada, pouco tempo depois de ter deixado a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Campo Grande.
O caso ganhou repercussão nacional, e o Gacep, sob a coordenação do promotor Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos, já instaurou dois procedimentos para averiguar o trabalho da polícia e da Deam no caso.
Em entrevista, o promotor afirmou que, como órgão de controle externo da atividade policial, o Gacep está investigando as circunstâncias do atendimento prestado à vítima. “Há o risco ou a possibilidade de que tenha havido deficiência nesse serviço, e queremos apurar de forma clara e detalhada como os fatos ocorreram”, declarou. A investigação também inclui a coleta de dados sobre o fluxo de atendimento da Deam, desde o acolhimento inicial até as medidas de proteção adotadas, além de investigar o passivo de ocorrências não formalmente registradas.
O chefe do Gacep também anunciou que um segundo procedimento foi aberto para analisar a efetividade do funcionamento da Deam em longo prazo, incluindo o tempo e as condições de espera das vítimas e a profundidade do atendimento oferecido. Não há prazo determinado para o término das investigações, mas o promotor garantiu que ambos os procedimentos terão a mesma prioridade e serão tratados com urgência.
A morte de Vanessa gerou grande indignação e levou o Ministério das Mulheres e o Governo de Mato Grosso do Sul a se manifestarem. O governo estadual admitiu falhas no protocolo de atendimento da Casa da Mulher Brasileira e anunciou a revisão do processo, além da abertura de uma investigação na Corregedoria da Polícia Civil.
O Caso de Vanessa Ricarte
Vanessa Ricarte, que estava em um relacionamento conturbado com o músico Caio César Nascimento Pereira, procurou a Deam para registrar ameaças de morte e obter uma medida protetiva contra ele. A jornalista havia rompido o relacionamento dias antes do crime, após passar dias em um ambiente de abuso e violência. Caio, que era dependente químico e frequentemente embriagado, ameaçava a ex-companheira e, no dia 11 de fevereiro, tentou cometer suicídio, dizendo que mataria Vanessa junto consigo.
Apesar da medida protetiva concedida na Deam, Vanessa retornou para sua residência sem escolta policial, conforme orientação dos agentes, e foi assassinada no dia 12 de fevereiro, quando Caio a atacou com três facadas. O criminoso foi preso em flagrante e já tinha um histórico de pelo menos 11 registros de violência doméstica, incluindo episódios de agressão contra sua mãe e irmã.
A tragédia expôs falhas no sistema de atendimento às vítimas de violência doméstica e levanta questionamentos sobre o cumprimento das medidas de proteção. O caso também trouxe à tona a necessidade urgente de uma revisão nos protocolos e maior rigor no acolhimento das vítimas nas delegacias especializadas.
Fonte: Campo Grande News.com.br