Odilo Balta / jornalcorreiodosul@terra.com.br
Fonte: Campo Grande News
Pelo menos 60 mulheres atenderam ao “Calcinhaço”, ato convocado em repúdio a trio de deputados estaduais que, na tribuna da Assembleia Legislativa, se levantou contra mulheres que teriam tirado as calcinhas em frente a igreja evangélica na Rua 14 de Julho, Centro de Campo Grande, durante o Carnaval. O grupo ocupou o plenário da Casa legislativa na manhã desta terça-feira (3).
As mulheres confrontam as falas de Rinaldo Modesto (PSDB), Herculano Borges (SD) e Lucas de Lima (SD). Na semana passada, os três usaram o microfone da Assembleia para mostrar indignação após relatos que teriam ouvido de fiéis.
Segundo os membros da bancada evangélica, algumas mulheres "tiraram as calcinhas" em frente à IECG (Igreja Evangélica de Campo Grande), que fica na 14 de Julho, quase esquina com a Avenida Mato Grosso. Tradicionalmente, o ponto fica no circuito dos foliões que aproveitam o Carnaval de rua da Capital.
Nesta terça, com calcinhas nas mãos, cartazes e camisetas com frases feministas, mulheres se concentraram em frente ao prédio da Assembleia e entraram no plenário antes do início da sessão.
O grupo entoava palavras de ordem como “calcinhas unidas jamais serão vencidas” e “uma calcinha incomoda muita gente”. Varal foi montado para pendurar as roupas íntimas, que serão doadas para mulheres em situação de rua após o protesto.
Deputados presentes observavam passivos ao protesto. O deputado Rinaldo Modesto se aventurou em discursar na tribuna, mas acabou silenciado pelas manifestantes.
Enquanto as mulheres seguiam cantando palavras de ordem, o parlamentar tentava se justificar e dizia que suas palavras foram tiradas de contexto.
O tucano citava que sua carreira falava por ele, por isso não poderia ser taxada de machista. Com fala encoberta pelas mulheres, Modesto se destemperou e disparou que as famílias sul-mato-grossenses conhecem sua atuação.
Diante da fala frustrada, o presidente da Assembleia, Paulo Corrêa, suspendeu a sessão por cinco minutos.
Apsicóloga Cristiane Duarte, uma das organizadoras do ato, reafirmou repúdio às falas de Modesto e apontou falta de provas.
“A calcinha é um simbolismo. A partir dela protestamos por equidade de gênero. A mulher não é representada na Assembleia”, disse. Mato Grosso do Sul é a única Casa legislativa estadual do País 100% masculina.
A advogada Laura Candia aderiu espontaneamente ao calcinhaço e questionou o reforço na segurança em frente à Assembleia. A Polícia Militar se fez presente com sua cavalaria.
“É desproporcional. Fruto de deputados que não gostam de mulheres. Não precisam ter medo das mulheres, de pessoas que só querem pedir pela democracia”, opinou. A advogada completou que a iniciativa das mulheres é “nobre e criativa”.
Deputados - Um dos pivôs da polêmica ao dizer que também ouviu relatos de “calcinha na porta da igreja”, Herculano Borges comentou que o protesto das mulheres é válido, mas falou em distorção das palavras do deputado Rinaldo Modesto.
Mulheres improvisaram varal para calcinhas, que serão doadas após protesto (Foto: Marcos Maluf)
“Também entendo que é preciso mais espaço para a mulher na política. No meu partido há um programa para capacitar e dar condições às mulheres que desejam entrar na política”, discorreu.
“Estão distorcendo conteúdo do deputado Rinaldo. Depois da fala dele, foi tudo jogado em uma vala comum. O que o deputado relatou foi o que recebeu de informações da IECG. O excesso de algumas pessoas prejudicam o todo”, continuou.
Borges ainda defendeu a concentração das festas de Carnaval em um só lugar, uma vez que “não tem como controlar a multidão”.
Os petistas Pedro Kemp e José Almi tomaram partido das manifestantes no plenário. O primeiro entendeu ato como legítimo, principalmente às vésperas da comemoração do Dia Internacional da Mulher.
Almi taxou como infeliz o discurso de Rinaldo Modesto sobre mulheres e Carnaval.
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